Thursday, April 15, 2010

Estátua

(...)




O esforço que fazem as notícias e o som da sala
por romper com qualquer reação a impassividade do meu rosto.

O trabalho que tem o mundo em movimento
por quebrar meu foco difuso,
por forçar os meus olhos estáticos a qualquer movimento.

A força bruta que a rotina exerce sobre mim
por me deixar mais operacional nessa segunda fria,
mais profissional e menos...



parado e...





distante.





De uma lembrança em 'slow-motion'
à agonia de uma esperança dissolvida.

Do instante de um sinal 'comum' de alegria corrente
até o longo infinito de outro sinal nenhum,
voltei pra um lugar que já conhecia de outras 'quartas cinzas',
mas que já quase não lembrava o endereço...

Cai nova e suavemente em mim...
Como quem cai em si sem perceber...

Cai em mim por que na torrente desses dias
abdiquei de mim pra ser de alguém.
Pela rasa e platônica possibilidade ser mais que só...

Como uma estatua que mesmo depois de calcinada,
crê que pode voltar-se outra vez em barro mole...

Como tal estátua a qual me moldei e me calcinei,
cai do pedestal no qual 'vivia' e me...


Quebrei.



A força que o externo exerce pra ajuntar meus pedaços,
pra concertar minha carapaça dura e opaca de homen comum,
é insultada pelos meus olhos fixos...
Tão contrária à doçura com que o som do piano melancólico
daquele compositor francês entende e abraça minha...


Alma...


Meu momento imovel...

...meu nada tão solene e frágil.


Essa força é tão absoluta em sua futilidade necessária.
Tão cruel na sua peculiar ironia crônica e azeda,
que parece urrar como um leão contra minha insistência...




Estática.




Mas esse urro de vida, já quase não me afeta.

Essa força da rotina já quase não me move...

Essa paralisia já quase não é minha....


Já...

'Quase'

não.





(...)


I.V.



Soundtrack:
Point zero / Yann Tiersen (Tabarly)

1 comment:

Paula said...

Assim do nada resolvi ler oblog da wad
Assim do nada resolvi como que por força de outrem, ler seu texto
Assim do nada fui me apegando a cada palavra como se de minha mente fossem parte...

maravilhoso!