Monday, June 2, 2008

Bolha de Sabão- Crônica

Hoje fiquei sabendo de maneira meio abrupta que um amigo de infância havia sofrido um acidente e falecido. Isso me quebrou a base.

É fato! Tudo o que nasce, more! e talvez esse seja o único fato concreto sobre a terra, do qual acredito eu que a humanidade nasceu eternamente despreparada. Céus! Como a vida é frágil, ora se está vivo, ora já não. Ninguém gosta de falar de morte, mas quando ela aparece num porta retrato é que nos damos conta de quem ela é... Vinte e tantos anos de história, momentos e mais momentos, detalhes e identidades, pra estupidamente sumir do mundo e deixar tudo pra quem ficou, não havendo sequer a possibilidade de um “death E-mail”.

Esse pedaço denso de eternidade que agente passa sobre a terra é em essência, um aglomerado de dúvidas, as quais usamos pra compor o alicerce de algumas certezas. Todo mundo é tão igual e tão absurdamente diferente. Não vou aqui dar uma de Pedro Bial, nem me prestar à Shakespeare do século XXI, filosofando sobre morte e vida e qual o verdadeiro sentido destas. Mas da minha parcela de conselhos obsoletos e sofríveis, me cabe sugerir a cada um que ainda respira que se esvazie de si, que deixe claro e saliente o que sé e o que se pensa, com muita classe e noção é claro, mas que jamais se relacione com quem é importante, e com quem se saber ser importante através de uma interface social programada. Ame de fato, mesmo que isso seja contrariar ou ser contrariado; expresse o que se pensa e o quanto cada um é importante pra você (quando de fato for); ressalte e frise os detalhes da identidade de cada pessoa que você nota, elogie, abrace, beije, ame, sem padrões nem medos.

A fragilidade da vida é tão absurda quanto a própria vida, e quando em fim, cumprirmos com nossa natureza e nos encontrarmos com nossa inevitável sentença, enterraremos milhares de agradecimentos não feitos, elogios não dados, potenciais não despertados nas pessoas que nos cercaram, amores não declarados e desculpas não ditas. E isso é natural, é até meio piegas pensar assim, afinal agente vai estar morto mesmo. Mas quando não tão ‘em fim’ assim, alguém que de manhã tomou café ao seu lado desaparecer desse mundo a tarde, vai ficar na garganta milhares de agradecimentos não feitos, elogios não dados, potenciais não despertados na pessoa que foi, amor não declarado e desculpas não ditas. E isso não é natural, não é piegas e não é inevitável. Fica difícil levar pra cama, pro trabalho, pra vida inteira tudo isso, todos os detalhes, todas as lembranças e todos momentos lindamente fúteis que você viveu com aquela pessoa do café de ontem. Mas quando o tudo isso parar na garganta, o tempo nos deixar diluir tudo em lagrimas, e muitas vezes não há lagrimas suficientes na vida inteira.

Acredite e se esforce por quem você gosta, esteja sempre vazio do que se tem a dar, não importando se será ridículo ou não. Não falo de bancar o “super carismático” e ser só abraços e sorrisos, nem se prestar a gastar a vida em programas sociais, muito menos viver desesperadamente como se cada instante fosse o último e ter a possibilidade da morte como um pesadelo que te obrigue a se derreter a todo momento, isso seria insuportável , mas, se o amor e a compaixão ficarem à mercê de programas de comportamento, se o medo de se expor e de se decepcionar forem maior que o que se tem na mente e no peito, você pode estar se condenando a morrer lentamente com o peso do amor não dado, das emoções não expressas e das palavras não ditas apodrecidas na alma.

Privar o amor ao próximo, é um homicídio... É um suicídio. O tal amigo nem era tão próximo, mas hoje, eu morri mais um pouco.

Isaque Veríssimo, segunda-feira 2 de junho de 2008.