Wednesday, October 10, 2007

xinoca


(...)


pitanga, caju
a carne macia
o vento do sul

a pele o pessego
a boca de fruta
o cheiro de flor

o azul do ceu
o seu azul
o som do mar

mãos, dedos, tremor
o frio na barriga
suor, arrepio, calor

entregar-se
se dar sem dor
ser mais que estar

mais amor que mar
mais amar que amor.



(...)


I.V.

Tuesday, October 9, 2007

Sina

Mente querida
mantém minha sina

Peleja contra o branco
tateia palavras distraídas
atira letras por todo canto
Suja o manto do vazio encanto.

Por enquanto...

engrandeço de letras um único verso
pequenas estrelas do grande universo
agradeço ao verbo
vento de outono, ventre de tudo.

Sina querida
Mantém minha mente viva.


I.V.

Dia de Cão

(...)



Cinza

Amanheceu o dia

Gélido e calmo
Preludiando à desventura

Um deserto de sorte
Sem tom de festa
Sem som e nem pressa

Manso e destro
Parecendo prezar a zebra
Agourando a ceia
e a ciesta

Esgotando forças
Estocando zangas

Piada sem graça
Ferina fadiga

Como um fogo desafeto
Mortiça fúria que ardia

Úfa...

Ainda era dia.




(...)

I.V.

Saturday, June 23, 2007

penso

...




penso

tenso

passo

peço

paro

repasso e reparo

repito e repenso

penso mais que tento

péso mais que penso

tenso mais que passa o tempo

menos que tento

penso.




se a velocidade do meu pensamento fosse equivalente a valocidade da vida passando, eu tenho certesa que eu pensaria bem menos.

I.V.

lento

anestésico
sinestesiando cores no escuro
ouvindo lembranças na chuva
num conto genérico
semântico

a meio passo do tudo
mediante ao quase nada
perto do sentido negado
por tudo que se foi sentido e elevado

-reconsiderando-

releva e voa eficaz mente amiga
sinestesia cores, aos não nascidos da a vida
enterra sem postumas homenagens
os não dignos despotas da regencia antiga.

mente minha
mente, minha amiga.


I.V.

amores passados

doces acordes
claros sussurros
sorrisos macios
luzes fortes

briza saborosa da estação passada


proxima estação: "vida nova"
saida pelo lado direito

no brilho dos olhos
o encanto estranho

na música dos gestos
a atração retraida

na cor do sorriso
a duvida do engano


se o coração pensace
se a mente pulsace

se assim... só assim, seria só...


... sincéro som do sim.



I.V.

para

...


para nada que seja meu
para tudo o que for
paro no espaço e espero parado
paro, nem respiro
suspiro e me suspendo

paro e separo o agora do depois
e que o depois me perdoe

reparo e repenso em outrora estar só
pra agora agora ser dois


para pra eu te olhar
espero pra te ver passar

assim, não paro de repensar em nós

no anseio de ser teu par.


I.V.

pesos

...

peso aos poucos
os preços e os apreços
os sorrisos e os quase beijos

me centro nos encejos
o anseio e os receios
os dardos e desejos

desenho rotas
engulo letras
arroto desfarces

abraços rotos
rostos colados
calados esboços


anseios incertos


I.V.

Thursday, June 21, 2007

Forma

...

certo que era seu, se deu por certo
sendo seu, era só, exclusivo,
alusivo e determinado

a não ser igual, a não se determinar.

Claro que era assim, se criou por si,
assim se fez, só.
Em seu mundo, do mundo em que existia.

Certo que era mais, assim cresceu e assim reinou.

mas a massa amassa,
massifica, massacra

Com um pequeno virus, com nome de mulher,
lhe fez de grande pequeno a pequeno em si mesmo.
De suficiente a sedento desnecessário.

Claro que nada já lhe era certo, se deu por errado
e assim se fez, confuso, difuso e atordoado

um formato amassado, um espelho sem reflexo, um museu sem passado.


...

I.V

casa cheia.

Quero antes o prazer de ser
Quero antes provocar risos
e gestos sinceros
Antes de estar ou de ter

Quero o bom senso precioso
Ser gentil e amistoso
Quero a graça da ignorância
Antes de ser culto e grosso

Quero saber chorar.
Saber sorrir.

Saber o que ser.
Antes mesmo de saber que sei.

Quero meu celular com a agenda cheia.
A casa com amigos e não teias

Antes, quero a poeira sempre no ar.
Não sobre as cadeiras
da mesa de jantar.
Sobre o sofá da sala de estar.

Quero antes o ser mais que estar.

eu acho

sempre achei
que o achar era fato

e que o fato era de fato estar onde eu acho

sempre achei
que o viver era raro
que o falar era claro

o estar era necessário

sempre estive convicto do que eu acho
e sempre achei que convicção era fato

no entanto
o fato é que o que eu acho
não é fato, é sim, só o que eu acho

e isso é fato

é raro e necessário.
porem nem sempre claro

é necessário que esteja em mim aonde quer que eu acho que estou.

ao menos eu acho.

Wednesday, June 20, 2007

Filosofia de cosinha, texto.

Percebo...

Toda vez que alguém me olha e se interessa, ou talvez se interesse antes mesmo de me olhar, chega com jeito e interage comigo, é como se tal pessoa me abrisse. Talvez porque veja em mim, o saciar da fome de coisas boas, de coisas nem sempre tão boas ou as vezes só por conhecer, tirar uma onda, saborear as besteiras que guardo dentro de mim... Não sei ao certo o porque, nem os motivos pelos quais atraio pessoas. O que sei é que quando alguém me abre, uma luz se acende dentro de mim, como quem diz “bem vindo” e mostro o que tenho dentro do que sou, como quem parece oferecer “deseja algo?” . Há quem logo me fecha, se desinteressa, há quem toma algo de mim pra si logo de cara e já me tem por amigo, mas também há quem não se satisfaz e vai a procura, mexe, fuça e refuça, me muda por dentro. As vezes vai a fundo e abre em mim partes que outrora sempre estão fechadas, buscam coisas mais serias, não só besteiras, buscam as coisas congeladas no meu âmago, aquelas coisas que já estavam lá a tempos e que durariam anos se ninguém ousasse tocá-las.

De alguma forma todos que vem buscar em mim algo, seja pelo motivo que for, sempre acrescentam algo novo, ou reacressentam coisas velhas, e essa troca de coisas, favores e necessidades é o que parece dar sentido à minha existência.

De fato, acredito que não só eu, mas, todos os que se julgam humanos, compreendem esse processo, essa é a nossa natureza, somos uma caixa “fria” cheia de coisas que queremos trocar com outras... e negue se você puder, que isso também não te acontece!

O homem cria para si metáforas de si mesmo, se estende em coisas. Pois bem, ao sair da frente dessa extensão do seu cérebro ( computador ), vá até a cozinha e abrace sua geladeira. Ela tem muito de você...

...Ela acabou de se abrir com você e você nem notou.

Tuesday, June 19, 2007

devaneios

divago

viajo no meu mundo
sem muros nem pedras
trago num segundo
anseios terceiros, momentos e eras

atraso problemas
provoco a vaidade
assalto virtudes
trapaceio receios, salto sobre trevas

carimbo minhas mãos
na minha calçada da fama
repito meu nome em bocas diversas
aplaudo minha gana
alimento meu ego
conquisto amores e donzelas

e num suspiro disperto
num sorriso esboçado
do meu rosto comum
num momento disperso.

divago

Eu

do meu pai

passado

devo considerações pelo que sou, mediante a tudo que fui
por quanto me sinto levemente cansado

mas admito que seu neto me importa mais

meu filho

futuro

devo minha dedicação em memória de seu avô, mediante ao presente que me encontro
porquanto me sinto ainda encorajado

tenho mais a esperar do nada que me sujeitar a tudo

sou mais pai do meu futuro que filho do meu passado.


...